Monday, May 28, 2007

O GARRAFÃO PORTUGUÊS

Mais um que tem 17 anos:


O garrafão Português

Quem é que nunca se des­locou diligentemente para a praia popular mais próxima a fim de apanhar com um tre­mendo escaldão e en­controu uma alegre famí­lia a petiscar molemente à sombra de um ardente Garrafão a rebentar de uma mistura explosiva de branco-tinto absolu­tamente mortífera?

Ou quem é que nunca observou um grupo de simpáticos homens a mamarem copos atrás de copos, cujo recheio foi retirado de um modesto Garrafão de cinco litros enquanto batiam cartas batoteiras nas sebosas mesas das tascas?

Todos nós já presenciámos estas curio­sas cenas, fantasticamente comoventes e regadas. Mas quem é que já pensou no verdadeiro significado nacional e interna­cional do Garrafão?

Ninguém!

Ele é um objecto esquecido pelos inte­lectuais portugueses, pela Comunicação Social e, o que é pior, pelo poder político, que se recusa determinantemente a esta­belecer um estatuto condigno para este objecto tão apreciado pelos Portugueses.

É exactamente para promover este acto que eu me encontro estupidamente a es­crever este texto. Deste modo, a minha argumen­tação baseia-se em três pontos incontes­táveis e fulcrais, cujo conteúdo passo a explicar.

As três instâncias do ser

1) A estética platónica do corpo do objecto.

O Garrafão encontra uma das suas enormes qualidades no facto de ser um objecto encantadoramente estético. Ele fica bem em qualquer despensa, sala de jantar (com a Ceia de Cristo estrategica­mente colocada na parede frontal à mesa), cozinha ou até quarto, caso as assoalha­das do apartamento assim o determinem.

E um objecto moderno, virado especial­mente para a juventude, mas que visa atingir todos os escalões etários possíveis, aerodinâmico e prático, pois é facilmente transportável para qualquer lugar. É bara­to, com baixo custo de utilização e, o que está na moda, é recarregável.

2) 0 mundo supra-sensível como re­presentação da coisa em si

O Garrafão tem um significado muito especial para o Português.

Ele representa uma cadeia de ligações de amizade e fraternidade entre os habi­tuais possuidores deste celebérrimo objecto. Ele é um contributo inqualificável para a paz, harmonia e felicidade, que mais nenhuma outra realidade existente à face da Terra consegue dar. O Garrafão é um símbolo de unidade nacional e convi­vência democrática entre os habitantes da terra lusa, cuja força não pode deixar de ser reconhecida por parte dos máximos dignitários de Portugal.

O Garrafão é, resumindo este ponto com um vocábulo filosófico, o nómeno do povo português.

3) A racionalização das faculdades paradigmáticas do real.

O Garrafão obtém o máximo significado no seu aspecto cultural, tal como foi pater­nalmente reconhecido pelo Chefe de Esta­do do. O Garrafão é cultura!

Ele é utilizado pelos chamados filósofos do povo para adquirirem a inspiração ne­cessária de modo a realizarem a sua ac­ção humana. Teve um contributo conside­rável para a realização de máximas profa­nas, idealismos esquizofrénicos, filosofias morais e diários irreconhecíveis.

Os maiores representantes da cultura portuguesa facilmente se identificam com o Garrafão, e ele é catalisador de anima­das discussões de ideias e serões diletan­tes; ou seja: ele produz uma dinâmica cultural ímpar a um nível cosmopolita.

A fundamentação lógico-formal do ser

Como todas as análises e discursos, esta teve um prelúdio, uma exposição e terá uma conclusão lógica proveniente do atrás discutido e, como falei do Garrafão, acabarei a falar dele.

E concluo com uma miscelânea de pen­samentos humildes e sinceros, mas objec­tivos, de modo a lançar mais uma acha para a fogueira, tendo em vista a dignifica­ção do Garrafão. (E por aqui me despeço, que já me está a dar o sono.)

A — O Garrafão è sinónimo de qualida­de e quantidade, aliado a um preço imba­tível.

B — É alegria, amizade. cores berrantes e vistosas.

C — Corresponde à nossa identidade, principalmente no que se refere aos de palha, e modernidade, Europa, civilização no tocante aos de plástico.

D — E, essencialmente, quando nós gostamos dele, escrevemos desta ma­neira...

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