Monday, May 28, 2007

A BRIGADA DO REUMÁTICO

Aqui vai um texto que escrevi há gloriosos 17 anos.


O sol estava radioso!!

D. Chica, D. Carlota, D. Mariazinha e D. Augusta tiveram o mesmo pensa­mento. Mal vislumbraram o dia que tinha acabado de nascer prepararam as rendas, vestiram os fa­tos de trabalho (avental por cima das batas), colo­caram, geometricamente, os alfinetes no cabelo, olearam com um copo de água o aparelho vocal, fe­charam energicamente as portas, desceram, cam­baleando, as escadas e, sincronicamente, para­ram junto do café do Sr José:

- Olá, velhas raposas — disse amigavelmen­te D. Chica.

- Corno as meninas estão bonitas! — excla­mou cinicamente D. Carlota, a líder do grupo em ter­mos de má-língua.

Vamos entrar no café? — sugeriu esfomea­da D. Mariazinha.

Boa ideia — apoiou D. Augusta, a mais ob­servadora do grupo.

Entraram e sentaram-se na mesa do canto mais remoto, para desta maneira obterem uma ob­servação global do café.

Então o que é que as meninas vão tomar? — perguntou com visível desinteresse o Sr José.

Um cházinho, meia torrada e um pastel de nata — responderam em coro.

O Sr José voltou com o pequeno-almoço, atirou o chá, torradas, e bolos para cima da mesa e afastou-se do grupo.

- Vocês viram o que eu vi? — perguntou D. Augusta.

- Ho, ho — responderam as outras três.

- Ah, se a mulher sabe! —disse D. Augusta.

- Mas a marca de batôn não pode ser da muIher? perguntou D. Mariazinha enquanto masti­gava gulosamente a torrada.

- Pode lá ser da mulher! A mulher nunca usou batônretorquiu D. Augusta, golpeando os argu­mentos de D. Mariazinha.

Ela gasta o batôn com outros homens! — afirmou, peremptoriamente D. Carlota.

— Ho, ho! — responderam as outras três.

Repentinamente D. Chica amaciou o farto buço, olhou por detrás dos enormes óculos D. Ma­riazinha, e disse enquanto bebia sofregamente a ultima gota do chá:

— D. Mariazinha, chegou-me aqui aos meus ouvidos que a sua neta anda grá...?

Anda quê?! — perguntou D. Mariazinha que começou a suspeitar da afirmação da compa­nheira.

— Anda grávida, sabe, aquilo que lhe aconte­ceu 12 vezes! — afirmou D. Chica que começou a excitar-se com a conversa.

D. Mariazinha olhou para as comparsas de mesa, e fixou a sua atenção na cara da D. Chica que se contorcia energeticamente.

Então, o que é que tem, a minha netinha es­tá de barriga e pronto. Também eu estive, também a minha filha, e pronto!! — exclamou D. Mariazi­nha, que começou a fazer renda a uma velocidade alucinante.

Só que a sua neta não tem aliança no dedi­nho, e tem apenas 17 anos — afirmou D. Chica, que tinha atingido o orgas­mo do prazer de maldizer.

D. Mariazinha parou de fa­zer renda, olhou para as companheiras, pegou na ponta da bata, limpou as lágrimas, levantou-se, e disse furiosa:

— Vocês são umas gralhas!!

D. Mariazinha saiu do café e, passados 15 minutos, entrou na sua casa, situada a cem me­tros.

Lá vai a raposa. Realmente, a neta é fresca é — disse D. Augusta, que transpirava com a violência linguística da cena.

— José, dose dobrada! — ordenou D. Carlota.

Às 6 horas da tarde foram para casa. Às 10 horas deitaram-se. Tinha passado mais um dia nas suas longas vidas.

No dia seguinte o sol estava radioso!

D. Chico, D. Carlota, D. Mariazinha, D. Augusta tiveram o mes­mo pensamento. Mal olharam para o dia que tinha acabado de nascer prepararam as rendas...

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